sábado, 24 de outubro de 2009

And it all comes back to you *

Eu sei que prometi um texto contando toda saga que foram esses dois meses de pé quebrado, mas aconteceu o que eu já imaginei que aconteceria: eu acabei esquecendo da maioria dos detalhes menores e engraçados que eu gostaria de ter escrito a respeito. Aos poucos eu vou lembrando e colocando aqui ou no twitter.

Hoje de manhã, como já é de praxe aos sábados, fui comprar aquele super erva-mate defumada que o Seu Ari Tibola traz direto de Marau. Quem ainda não conhece, deve conhecer. Estabelecimento fica na Felipe Camarão, lado esquerdo da rua entre a Bento Figueiredo e a Henrique Dias. Feito o jabá, deixa eu contar o fato que me aconteceu hoje de manhã. Parei o carro a meia quadra do local e, com toda sorte do mundo recaindo sobre mim, começou a cair a maior chuva da história da humanidade. Mas tudo bem, o lugar era perto e eu não demoraria mais que cinco minutos para comprar a erva e voltar, se bem que levei em consideração que ainda não estou liberado para correr por causa do impacto.

No que eu estou atravessando a rua, enxergo um senhor de idade com sacolas da feira ecológica da Redenção, sozinho, locomovendo-se com muita dificuldade com o auxílio de uma daquelas
bengalas de quatro pontas. O pessoal passava ao largo fugindo da chuva e ninguém o ajudava. A chuva apertando, olhei pro mercadinho a menos de 10 metros de distância, olhei pro senhor em grande dificuldade, suspirei e fiz o que é certo. Fui ao encontro dele e falei "o senhor precisa de alguma ajuda?". "Meu filho, se me ajudares a atravessar a rua já lhe serei muito grato". Eu imagino que o teria ajudado de qualquer forma, mas certamente o fato de eu ter passado 45 dias precisando da ajuda das pessoas para fazer tudo e com problemas sérios de locomoção, eu tinha pelo menos uma idéia do que era a dificuldade que aquele senhor estava enfrentando para caminhar vagarosamente, com sacolas em um aguaceiro apocalíptico daqueles. Dei de braços com ele e procuramos um ponto onde não estivesse correndo muita água na sarjeta da rua, pois ele tinha grandes dificuldades em fazer movimentos longos com as pernas.

Vendo minha camiseta do Grêmio ele disse: "Só podia ser gremista para estar ajudando este velho. Eu fui um dos primeiros sócios do Grêmio. Comprei a primeira leva de títulos patrimoniais logo que colocaram a venda.". E assim ele me contou toda história de quando ele ia no estádio 40 anos atrás, dos grandes craques que viu jogar, das grandes conquistas e dos jogos inesquecíveis.

E nesse momento eu nem me importei com a chuva. Já estava molhado mesmo. A grande alegria de poder ajudar uma pessoa tão necessitada só era compensada pela história que eu ouvia. Não importavam os carros que passavam e jogavam spray do asfalto, nem a chuva que torrencialmente seguia molhando as lentes dos óculos de ambos e mais o resto da roupa toda, nem o meu tênis que já fazia BLOSH, BLOSH, SMUISH a cada passo. Éramos dois que não podiamos correr da chuva, então ficamos nela mesmo. Eu poderia livrar-me dela mais rápido, é verdade, mas eu jamais poderia livrar-me da culpa em não ajudar quem precisa.

Chegando ao outro lado da rua, ele afirmou que morava perto e que eu não precisava acompanha-lo até em casa. O grande problema dele era atravessar a rua mesmo. Apoiar-se em mim não o fazia andar mais rápido, portanto não fazia sentido eu ir junto. A grande ajuda que ele precisava era para descer e subir o cordão da calçada e alguém para gesticular e dar segurança a ele enquanto os carros rugiam pelo asfalto. Com a missão cumprida, ele despediu-se com um sorriso de agradecimento e um "Amanhã 2x0 neles!". Não sei se esse será o placar, na verdade. A grande vitória já foi hoje. A vitória da solidariedade, da gentileza, do fazer bem ao próximo. E quando estes ganham, não existem derrotados.

Momento Polaroid e mais uma semana que fechou. Quer jeito melhor para fechar a semana que na beira do Guaiba tomando um mate?


Eu sei que é repetitivo, mas é bem lindo!!!


Eu sei muito bem o que a Sra. Fogaça quis dizer com "Porto Alegre é Demais"


Mais ou menos isso aí...


Ou talvez isso aí...


Bah. milhares de temperos no Mercado Público, o paraíso dos apreciadores da culinária.

"Você dá um pouco de amor e tudo volta para você.
Você será lembrado pelas coisas que diz e faz"

*
Comercial Coca-Cola

Namastê!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

It must be for real 'cos now I can feel*

O twitter matou meu blog. E isso não é culpa de ninguém. É culpa minha mesmo. O grande problema de ter twitter é que o twitter virou o sumidouro para todas minhas idéias soltas e curtas que, antes, desenvolvidas, viravam as loucuradas dos meus textos. Acho que, neste aspecto, concordo um pouco com o sábio José Saramago: "Os tais 140 caracteres reflectem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido.". Sou obrigado a concordar em parte. Não dá para negar que o advento da minha conta no twitter está intimamente ligado ao abandono total e completo deste pobre blog. A tentação de escrever pouco, de forma concisa e rápida, ao mesmo tempo que todos aqueles que o seguem fiquem sabendo na mesma hora é muito grande.

Na contramão desta obra do capeta, não podemos negar que o twitter (que significa gorjeador em português) acabou por estreitar laços e mudar a forma como consumimos a informação. Talvez a maneira de divulgar e noticiar nunca mais seja a mesma após este mini-blog que se popularizou de maneira estrondosa nos últimos seis meses. Vou dar um exemplo prático que demonstra as duas coisas ao mesmo tempo: Eu sigo o
Rubens Barrichello no twitter. Não tem xabu, é ele mesmo que escreve lá. Dias desses ele colocou uma foto ao estilo "auto-foto", aquelas que você estica o braço e tira foto de si mesmo, só que fez isso dentro do carro nos boxes de capacete. No que deu um intervalo no treino, ele foi pros fundos do box e twitou a foto com os dizeres: "Eu no carro antes do treino". Isso é sensacional. Criou uma aproximação até então jamais sentida pelo público. Outro exemplo foi uma declaração que ele escreveu certa vez sobre o retorno abortado do Schumacher. Uma hora depois estava nos sites de notícia sobre automobilismo. Já era. Notícia velha. Todo mundo que seguia o cara já sabia e ficou sabendo do próprio, sem imprensa no meio.

Por isso que eu digo que uma revolução na maneira que consumimos e recebemos informação é inevitável. "Em vinte minutos tudo pode mudar" diz o slogan da Band News FM. E é verdade. A informação chega a nós de maneira tão veloz que, quando você abre o jornal de manhã, aquela notícia já é velha. Só não podemos deixar o twitter nos alienar. Tomo todo cuidado do mundo para não deixá-lo virar uma espécie de tapa-olho, onde só consumo pronto tudo que ele me manda. Ainda cultivo o habito de escutar rádio, entrar em outros sites e muito, mas muito raramente, ler alguma coisa em jornal.

Last, but not least: hoje fui ao médico e fui finalmente liberado para andar sem muletas. Poucas alegrias na minha vida se compararam a ir caminhando com as muletas na mão para devolvê-las na ortopédica. Foram sessenta e três longos dias usando muletas para caminhar. Uma hora dessas conto minhas aventuras como um deficiente físico temporário.

Momento Polaroid de hoje marca uma das primeiras coisas que fiz nesse renascimento. Uma das coisas que mais expressam a nova sensação de liberdade que eu senti ao poder andar pela própria força das minhas pernas novamente:


Ah... o por-do-sol do Guaíba.

Namastê!

*
Bush - Glycerine