quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Província Riograndense

Li a seguinte hoje: "Nao quero acreditar que 2 Dalmatas estao mobilizando tanta gente. Só na provincia mesmo!". Se você não sabe do que se trata, leia aqui. Eu queria entender por que alguém diz isso com tom de desdém. Acho muito legal que um cãozinho perdido mobilize uma cidade. Coisa boa essa sensação do vizinho amigo, que te conhece. Do cumpadre da vendinha da esquina. Eu sempre disse que Porto Alegre não é uma metrópole, mas sim uma grande cidade do interior. Que bom, meu caro, que eu moro numa cidade que um simples par de Dálmatas perdidos mobilize as pessoas e vire assunto. Que as pessoas ainda tem esse tipo de empatia pelos outros e se importem. Ou então que não aconteça nada tão importante que isso vire notícia.

Acho que o senhor em questão preferia viver numa dessas cidades bem grandes, ditas "cosmopolitas". Impessoais, frias, com suas grandes avenidas, cheias de prédio e concreto. Onde ninguém olha pro lado, ninguém se importa com ninguém e cada um vive dentro do seu mundo. Grande MERDA de super cidade que se diz melhor porque tem um museu disso, uma peça de teatro daquilo e um restaurante daquele outro. Com tanta coisa e ao mesmo tempo sem nada. Falta o elo, falta a liga, falta o elemento que dá sentido a tudo isso que é a relação de cordialidade e camaradagem entre as pessoas. Claro que não serei hipócrita aqui de dizer que em Porto Alegre todo mundo se ama. Estamos bem longe disso. Só dar uma voltinha no trânsito no final de tarde e irás constatar. Agora, não podemos negar que aqui há um senso de humanidade que não se vê em todas cidades do mesmo porte. Lembro-me uns anos atrás que a foto de um morador de rua que teve seu cãozinho atropelado virou contra-capa da Zero Hora, jornal de maior circulação da região Sul do país. E aquela foto comoveu as pessoas, que não falavam de outra coisa.

Se ser provinciano é se importar com os outros, se é dar importância a um animalzinho perdido, a um cãozinho atropelado ou então a puxar um papo com aquele tiozinho no supermercado porque você achou bonita a costela que ele escolheu pra assar churrasco no Domingo, então, SIM, somos província SIM SENHOR. E com muito orgulho, diga-se de passagem.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O Livro está sobre a mesa.

Hoje de manhã eu estava indo pro trabalho escutando o programa Polêmica, do Lauro Quadros. Creio eu que o referido programa dispense apresentações. Todo mundo conhece. Contudo, para que os que não conhecem, trata-se de escolher um tema polêmico e trazer pessoas com opiniões contrárias para falar sobre o assunto. O tópico de hoje era: estrangeirismos na Lingua Portuguesa. Eu tenho uma opinião dividida sobre este assunto. Na verdade, eu creio que precisamos ter um meio termo. Acho que a expressão que estou buscando é BOM SENSO.


Eu acho o fim da picada passear no shopping center (ou seria centro de compras?) e ver as palavras "SALE" e "20% OFF" nas vitrines. Pelo amor de Deus. É "PROMOÇÃO" e "20% de DESCONTO". Acho que o estrangeirismo tem seus limites e o problema é que o comércio e o marketing das empresas desconhece os mesmos. Querem dar um ar de sofisticação e modernismo à coisa e no fim das contas acaba virando um negócio patético e imbecil. Eu até assumo uma meia-culpa nessa. Eu falo estrangeirismos mais do que eu gostaria durante meu dia de trabalho. Mas eu falo assim apenas na empresa e assim o faço como resultado e reflexo do meio. Quer ver uma frase que não causaria estranheza: "Pessoal, vamos ter que schedular uma meeting com o time de US. Acho que o issue de produção da semana passada vai impactar o nosso deployment e temos que dar o heads-up". Isso eu falo dentro do meu ambiente de trabalho. Não saio falando assim na rua. Pra uma pessoa de fora eu diria assim: "Vamos ter que marcar uma reunião com o time dos EUA. Acho que o problema de produção da semana passada vai impactar nossa implantação e temos que dar o alerta".


Contudo, eu não sou contra estrangeirismos óbvios e de uso popular. Acho que eles são um reflexo de um mundo globalizado e a linguagem deve evoluir para acompanhar as tendências. Deletar, Twitar, notebook e mais uma centena de vocábulos que acabam integrando o nosso dia-a-dia são uma coisa irreversível e vem para ficar. É bom que se diga que a própria paixão nacional, o FUTEBOL, nasceu da adaptação de um estrangeirismo. Fosse diferente, estariámos até hoje chamando o esporte bretão de "Pé na Bola". "E aí pessoal, vamos jogar um pezinho na bola amanhã de noite?".


Proibir palavras estrangeiras é retrogrado e intransigente. Vai na contramão dos rumos que a humanidade toma e isto não é de hoje. Só não pode haver o exagero. Estou condenando o uso por usar, quando existem palavras corriqueiramente utilizadas na Língua Portuguesa que cumpririam a função adequadamente. Como diria-se na fronteira: "usar só pra se fresquear".